O Minho acolhe-nos de uma forma bastante particular, a paisagem esmaga-nos com a sua beleza agreste, as suas gentes, presenteiam-nos constantemente com uns sorrisos expressivos e expressões espontâneas, que não tendo esse como objectivo, o facto é que nos deixam à vontade, em casa.
Este ano o Minho esteve mais bonito, foi aliás, “o sítio mais bonito onde estivemos até hoje”.
Há 10 anos que não visitávamos estes amigos. Na altura, partilhámos essencialmente relatos das habilidades e traquinices da pequenita deles com 3 anos e do nosso matulão de 4, eles, naturalmente partilharam brinquedos e brincadeiras indiferentes a tudo e todos na praia de Vila Praia de Âncora.
E o tempo foi passando, sereno.
Antes de viajarmos no início de Setembro, já tinham havido algumas, poucas, referências a uma miúda que ao fim destes anos todos se teria tornado numa bonita adolescente. Uns incompreensíveis monossílabos desvalorizaram o facto, com efeito, moças bonitas encontram-se de norte a sul de Portugal. Efectivamente, não é uma questão de beleza mas sim uma alquimia complexa que envolve, a testosterona o estrogénio, a dopamina e a serotoninade, esta maltinha toda.
Depressa se aproximaram, depressa se entenderam, ela, nunca tinha sentido nada daquele género pelos rapazes que conhecera até então, ele, definitivamente estava “no sítio mais bonito onde estivemos até hoje”.
Falar de paixão é falar de nós próprios, é viajar a um tal Julho algarvio já longínquo que nos dá esta faculdade extraordinária de adivinhar, a razão do mau-humor, da ansiedade e do choro compulsivo e descontrolado. Nada mudou, a paixão continua e continuará a fazer as suas ‘vítimas’ através do mesmo método rápido e fulminante, deixando as mesmas marcas.
Entretanto, eu vivi uma experiência nova, a dualidade ingrata de ter a perfeita noção do problema, as suas causas e efeitos, e a total impotência em resolvê-lo. Não é uma alergia ou uma febre, é a paixão dele, o aperto no peito é dele, o desespero o sofrimento, tem que ser ele a vivê-los, e pouco podemos fazer, é pouco, apontar o tempo como solução e falar duma normalidade a alguém que lida com esta dor pela primeira vez, ainda por cima na forma mais terrível, uma paixão impossível.
Sentei-me a seu lado, a noite estava fria, o luar mostrava os contornos do jardim das traseiras da casa, só os soluços descontrolados cortavam o silêncio.
Custaram-me sair as primeiras palavras, - queres ficar sozinho puto? – Acenou negativamente o que me deixou mais tranquilo, desabafar naquela altura era ter a oportunidade de saber mais sobre um assunto que lhe era totalmente desconhecido.
- sei o que estás a sentir…
- …sabes lá tu… – não consegui evitar um sorriso. Só lhe arranquei um nele quando cheguei à parte de andar a levar giz de cor às escondidas da sala de aula para escrever o nome dela nas paredes do prédio. Naquele ano, uns milhares de Jo+Linda rodeados por um coração traçado com a tradicional seta, encheram os muros e paredes lá do bairro, nunca chegaram a saber ao certo a identidade do autor. Não haviam telemóveis nem Messenger naquela altura, as paixões ou acabavam no fim do verão, ou (não) continuavam no ano seguinte.
Consegui que fosse mais sereno para a cama naquela noite.
Haverá algo pior que ver o filho sofrer por uma paixão frustrada? Claro que há, é ter a pessoa amada a 400 km de distância.
De volta à rotina, admiro-lhe a forma como está a encarar a questão, a sobriedade com que fala dela, e enche-me de orgulho a mestria com que criou as suas próprias defesas acerca dum sentimento tão complexo como a paixão.