sábado, 19 de setembro de 2009

Paixão, essa magana..


O Minho acolhe-nos de uma forma bastante particular, a paisagem esmaga-nos com a sua beleza agreste, as suas gentes, presenteiam-nos constantemente com uns sorrisos expressivos e expressões espontâneas, que não tendo esse como objectivo, o facto é que nos deixam à vontade, em casa.

Este ano o Minho esteve mais bonito, foi aliás, “o sítio mais bonito onde estivemos até hoje”.

Há 10 anos que não visitávamos estes amigos. Na altura, partilhámos essencialmente relatos das habilidades e traquinices da pequenita deles com 3 anos e do nosso matulão de 4, eles, naturalmente partilharam brinquedos e brincadeiras indiferentes a tudo e todos na praia de Vila Praia de Âncora.
E o tempo foi passando, sereno.

Antes de viajarmos no início de Setembro, já tinham havido algumas, poucas, referências a uma miúda que ao fim destes anos todos se teria tornado numa bonita adolescente. Uns incompreensíveis monossílabos desvalorizaram o facto, com efeito, moças bonitas encontram-se de norte a sul de Portugal. Efectivamente, não é uma questão de beleza mas sim uma alquimia complexa que envolve, a testosterona o estrogénio, a dopamina e a serotoninade, esta maltinha toda.
Depressa se aproximaram, depressa se entenderam, ela, nunca tinha sentido nada daquele género pelos rapazes que conhecera até então, ele, definitivamente estava “no sítio mais bonito onde estivemos até hoje”.

Falar de paixão é falar de nós próprios, é viajar a um tal Julho algarvio já longínquo que nos dá esta faculdade extraordinária de adivinhar, a razão do mau-humor, da ansiedade e do choro compulsivo e descontrolado. Nada mudou, a paixão continua e continuará a fazer as suas ‘vítimas’ através do mesmo método rápido e fulminante, deixando as mesmas marcas.
Entretanto, eu vivi uma experiência nova, a dualidade ingrata de ter a perfeita noção do problema, as suas causas e efeitos, e a total impotência em resolvê-lo. Não é uma alergia ou uma febre, é a paixão dele, o aperto no peito é dele, o desespero o sofrimento, tem que ser ele a vivê-los, e pouco podemos fazer, é pouco, apontar o tempo como solução e falar duma normalidade a alguém que lida com esta dor pela primeira vez, ainda por cima na forma mais terrível, uma paixão impossível.

Sentei-me a seu lado, a noite estava fria, o luar mostrava os contornos do jardim das traseiras da casa, só os soluços descontrolados cortavam o silêncio.
Custaram-me sair as primeiras palavras, - queres ficar sozinho puto? – Acenou negativamente o que me deixou mais tranquilo, desabafar naquela altura era ter a oportunidade de saber mais sobre um assunto que lhe era totalmente desconhecido.
- sei o que estás a sentir
- …sabes lá tu… – não consegui evitar um sorriso. Só lhe arranquei um nele quando cheguei à parte de andar a levar giz de cor às escondidas da sala de aula para escrever o nome dela nas paredes do prédio. Naquele ano, uns milhares de Jo+Linda rodeados por um coração traçado com a tradicional seta, encheram os muros e paredes lá do bairro, nunca chegaram a saber ao certo a identidade do autor. Não haviam telemóveis nem Messenger naquela altura, as paixões ou acabavam no fim do verão, ou (não) continuavam no ano seguinte.
Consegui que fosse mais sereno para a cama naquela noite.

Haverá algo pior que ver o filho sofrer por uma paixão frustrada? Claro que há, é ter a pessoa amada a 400 km de distância.
De volta à rotina, admiro-lhe a forma como está a encarar a questão, a sobriedade com que fala dela, e enche-me de orgulho a mestria com que criou as suas próprias defesas acerca dum sentimento tão complexo como a paixão.

4 comentários:

Fenix disse...

E porque é que há-de ser impossível?
Alguém vai partir para outro planeta?
Alguém vai morrer?

Nada é impossível!
Pode ser difícil, mas não impossível!
Ainda mais na adolescência com toda a vida pela frente!

Força, é o que preciso e nunca desistir!

Anónimo disse...

Como te entendo...
" o sitio mais bonito onde estivemos até hoje"
os sorrisos espontâneos, aquelas almas sãs que percorrem os nossos caminhos, se cruzam e sorriem num acto normal de quem é puro.

A paixão continua a fazer estragos... paixão é um fogo que nos aquece, queima faz-nos rir e chorar é o intenso do intenso, pensndo nós já termos passado por ela, sem sequer nos questionarmos se ela um dia voltar?

Vemos nos olhos dos nossos filhos esses sentimentos todos, queremos tanto protegê-los,,, mas é impossível. e pensa que ainda bem que não conseguimos proteger a esse ponto, é bom que eles a sintam.

eu cá por mim acho a paixão, apesar de perigosa, um dos sentimentos mais coloridos e bons que podemos ter.

é a adolescência é muito complicada, tenho uma filha na idade do teu filho :)) tás a ver...

gostas da música do Rui Veloso a "Paixão"?

beijos já falei para o mundial :))

O Fio da Meada disse...

é tudo isso sim senhor..

o teu comentário fez-me lembrar um pormenor que não coloquei no post

a determinada altura da nossa extensa conversa daquela noite, disse-lhe, que lhe podia parecer estranho e incompreensível, mas sentia alguma inveja dele naquele momento

a paixão é um privilégio, é aprender o lado extremo e intenso do sentimento, e estar ali perto do meu puto a partilhar a sua primeira paixão, não pude obviamente, como digo no post, «falar de paixão é falar de nós próprios», de viajar no meu tempo, pelas minhas paixões, e sentir está claro, uma grande nostalgia, saudade e inveja

e claro, gosto muito da 'paixão' do Rui, ou não fosse aquela letra a imagem transversal a todos, da paixão, numa melodia soberba

:)

beijo

MC disse...

:)

Belo texto.

A paixão, o Minho, 400 km de distância... como entendo isso tão bem...

A paixão é gira mas o Amor é que é importante... Não para o teu miudo que ainda está só na idade da paixão...

Fiquei aqui a pensar... como estará isso depois destes meses todos?